Mesmo que você não seja adepto de religiões de matrizes africanas, é importante saber pelo menos do que se trata para não sair por aí propagando desinformação e preconceito. Vem comigo e entenda um pouco!
Para começar, NÃO é tudo a mesma coisa. Existem diversas religiões de matrizes africanas diferentes. No Brasil temos algumas delas porque os negros escravizados vieram de diversos países da África, e não de um só.
Umbanda
Diferente do que alguns pensam, a Umbanda não é uma religião africana, mas brasileira com matriz africana, indígena e cristã. É a única religião brasileira nascida do sincretismo religioso.
Em 15 de Novembro de 1908 manifestou-se na Federação Espírita de Niterói o espírito que anunciou a religião de Umbanda, o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Ele indagou que a Umbanda seria a manifestação de todos os espíritos que tinham consigo uma grande sabedoria e ancestralidade, porém, não lhe eram permitido espaço dentro das religiões existentes. Visto que em outras crenças, o valorizado eram espíritos ditos como mais evoluídos pelo o que foram em terra.
“Por que não podem nos visitar humildes trabalhadores do espaço, se apesar de não haverem sido pessoas importantes na Terra, também trazem importantes mensagens do além?” Caboclo da Sete Encruzilhadas.
Para o Caboclo das Sete Encruzilhadas, o que realmente importava era o trabalho realizado, a caridade, o amor e o respeito ao sagrado. Tanto o caboclo brasileiro como padre católico carregam consigo esta mesma mensagem. O Brasil é um dos países mais miscigenados que existe e sendo assim, a Umbanda surge para possibilitar que essas pluralidades possam ser vividas, ouvidas e ensinadas em terra.
A Umbanda é monoteísta, cristã e tem nos Orixás, sincretizados com santos católicos, a representação das forças da natureza que auxiliam nos trabalhos magísticos. Acredita em reencarnação, conforme o Espiritismo e sua atuação com magia é apenas fazendo o bem, pois tem em sua base amor e caridade pautados nos ensinamentos de Jesus Cristo.
Candomblé
Uma religião derivada do animismo africano onde se cultuam os orixás, voduns ou nkisis, dependendo da nação. Sendo de origem totêmica e familiar, é uma das religiões de matriz africana mais praticadas, tendo mais de três milhões de seguidores em todo o mundo, principalmente no Brasil. Também é possível encontrar o chamado povo do santo em outros países como Uruguai, Argentina, Venezuela, Colômbia, Panamá, México, Alemanha, Itália, Portugal e Espanha.
Dentre as nações africanas praticantes do animismo, cada uma tinha, como base, o culto a um único orixá. A junção dos cultos é um fenômeno brasileiro em decorrência da importação de escravos onde, agrupados nas senzalas, nomeavam um zelador de santo, também conhecido como babalorixá no caso dos homens e iyalorixá no caso das mulheres.
A religião tem, por base, a anima (alma) da Natureza, sendo, portanto, chamada de anímica. Os sacerdotes africanos que vieram para o Brasil como escravos, juntamente com seus orixás/nkisis/voduns, sua cultura, e seus idiomas, entre 1549 e 1888, é que tentaram de uma forma ou de outra continuar praticando suas religiões em terras brasileiras. Foram os africanos que implantaram suas religiões no Brasil, juntando várias em uma casa só para a sobrevivência das mesmas. Portanto, não é invenção de brasileiros.
Diz Clarival do Prado Valladares em seu artigo “A Iconologia Africana no Brasil”, na Revista Brasileira de Cultura (MEC e Conselho Federal de Cultura), ano I, Julho-Setembro 1999, p. 37, que o “surgimento dos candomblés com posse de terra na periferia das cidades e com agremiação de crentes e prática de calendário verifica-se incidentalmente em documentos e crônicas a partir do século XVIII”. O autor considera difícil para “qualquer historiador descobrir documentos do período anterior diretamente relacionados à prática permitida, ou sub-reptícia, de rituais africanos”. O documento mais remoto, segundo ele, seria de autoria de dom Frei Antônio de Guadalupe, bispo visitador de Minas Gerais em 1726, divulgado nos “Mandamentos ou Capítulos da visita”.
Embora confinado originalmente à população de negros escravizados, inicialmente nas senzalas, quilombos e terreiros, proibido pela igreja católica, e criminalizado mesmo por alguns governos, o candomblé prosperou nos quatro séculos, e expandiu consideravelmente desde o fim da escravatura em 1888. Estabeleceu-se com seguidores de várias classes sociais e dezenas de milhares de templos. Em levantamentos recentes, aproximadamente 3 milhões de brasileiros (1,5% da população total) declararam o candomblé como sua religião.
O candomblé não deve ser confundido com umbanda ou outras religiões afro-brasileiras com similar origem; e com religiões afro-americanas similares em outros países do Novo Mundo, como o vodou haitiano, a santería cubana, e o obeah, em Trinidade e Tobago, os shangos (similar ao tchamba africano, xambá e ao xangô do nordeste do Brasil) o ourisha, de origem iorubá, os quais foram desenvolvidas independentemente do candomblé e são virtualmente desconhecidos no Brasil.
Terecô
Terecô é a denominação de uma das religiões afro-brasileiras da cidades de Codó no Maranhão e Teresina no Piauí, derivada do Tambor-de-mina semelhante ao Candomblé.
Os sacerdotes desempenham funções de rezadores e curandeiros, tipificados de origem indígena, cultuam caboclos e integram elementos de tradição religiosas africanas.
O terreiro é o espaço (privado) aberto em frente ou ao lado da casa, destinado a realização de danças ao ar livre, em oposição a rua e salão. Algumas das entidades são a légua-voji, angassu, toi-averequete, bosso-jara, cacamador, mãe-sobo, zomador, joão-da-mata, coli, maneiro-de-amaceda.
Tambor de Mina
Tambor de Mina é a denominação mais difundida das religiões Afro-brasileiras no Maranhão, Piauí, Pará e na Amazônia. A palavra tambor deriva da importância do instrumento nos rituais de culto. Mina deriva de negro-mina, de São Jorge da Mina, denominação dada aos escravos procedentes da “costa situada a leste do Castelo de São Jorge da Mina” (Verger, 1987: 12) , no atual República do Gana, trazidos da região das hoje Repúblicas do Togo, Benin e da Nigéria, que eram conhecidos principalmente como negros mina-jejes e mina-nagôs.
O Maranhão foi importante núcleo atração de mão de obra africana, sobretudo durante o último século do tráfico de escravos para o Brasil (1750-1850), e que se concentrou na Capital, no Vale do Itapecuru e na Baixada Maranhense, regiões onde havia grandes plantações de algodão e cana-de-açúcar, que contribuíram para tornar São Luís e Alcântara cidades famosas entre outros aspectos, pela grandiosidade dos sobradões coloniais, construídos com mão de obra escrava e pela harmonia, beleza e coreografia das músicas de origem africana.
Como as demais religiões de origem africana no Brasil (Candomblé, Umbanda, Xangô, Xambá, Batuque, Toré, Jarê e outras), o tambor de mina se caracteriza por ser religião iniciática e de transe. No tambor de mina mais tradicional a iniciação é demorada, não havendo cerimônias públicas de saída, sendo realizada com grande discrição no recinto dos terreiros e poucas pessoas recebem os graus mais elevados ou a iniciação completa.
A discrição no transe e no comportamento em geral é uma características marcante do tambor de mina, considerado por muitos como uma maçonaria de negros, pois apresenta características de sociedades secretas. Nos recintos mais sagrados do culto (peji em nagô, ou côme em jeje), penetram apenas os iniciados mais graduados.
O transe no tambor de mina é muito discreto e às vezes perceptível apenas por pequenos detalhes da vestimenta. Em muitas casas, no início do transe, a entidade dá muitas voltas ao redor de si mesmo, no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio, talvez para firmar o transe, numa dança de bonito efeito visual. Normalmente a pessoa quando entra em transe recebe um símbolo, como uma toalha branca amarrada na cintura ou um lenço, denominado pana, enrolado na mão ou no braço.
Na Mina, cerca de noventa por cento dos participantes do culto são do sexo feminino e por isso, alguns falam num matriarcado nesta religião. Os homens desempenham principalmente a função de tocadores de tambores, isto é, abatás, daí a definição abatazeiros, também se encarregam de certas atividades do culto, como matança de animais de 4 patas e do transporte de certas obrigações para o local em que devem ser depositados. Algumas casas são dirigidas por homens e possuem maior presença de homens, que podem ser encontrados inclusive na roda de dançantes.
Existem dois modelos principais de tambor de mina no Maranhão: mina jeje e mina nagô. O primeiro parece ser o mais antigo e se estabeleceu em torno da Casa grande das Minas Jeje (Querebentan de Zomadônu), o terreiro mais antigo, que deve ter sido fundado em São Luís na década de 1840. O outro, que lhe é quase contemporâneo e que também se continua até hoje é o da Casa de Nagô, localizada no mesmo bairro (São Pantaleão) a uma quadra de distância.
A Casa das Minas é única, não possui casas que lhe sejam filiadas, daí porque nenhuma outra siga completamente seu estilo. Nesta casa os cânticos são em língua jeje (Ewê-Fon) e só se recebem divindades denominadas de voduns, mas apesar dela não ter casas filiadas, o modelo do culto do Tambor de Mina é grandemente influenciado pela Casa das Minas.
Nos terreiros de Tambor de Mina é comum a realização de festas e folguedos da cultura popular maranhense que às vezes são solicitadas por entidades espirituais que gostam delas, como a do Festa do Divino Espírito Santo, o Bumba-meu-boi, o Tambor de Crioula e outras. É comum também outros grupos que organizam tais atividades irem dançar nos terreiros de mina para homenagear o dono da casa, as vodunsis e para pedir proteção às entidades espirituais para suas brincadeiras. Sérgio Ferretti: “No Tambor de mina do Maranhão pouco se fala em Oxum, Oiá e Obá, conhecidas nos terreiros influenciados pelo candomblé. Os orixás e voduns se agrupam em famílias ou panteões.”
Catimbó
Catimbó é um conjunto específico de atividades mágico-religiosas, originárias da Região Nordeste do Brasil. Conhecido desde meados do século XVII, o catimbó resulta da fusão entre rituais indígenas e católica onde as famílias do sertão praticavam seus cultos com a preparação de mesas com os santos, crucifixos e velas, embaixo de árvores frondosas que pertenciam aos terrenos (Terreiros) da caatinga, daí deriva a palavra Caatimbó – Catimbó (Culto religioso praticado na caatinga) dessa forma se agregaram os conhecimentos de origem africana, trazida pelos negros que foram escravizados. Os negros se identificaram com o culto do Catimbó por ser essa uma religião que cultua a natureza, assim como os índios cultuava sua religião no mundo dos espíritos junto a natureza (Jurema) e os negros a cultuava com os orixás em suas tribos.
O Catimbó, ao contrário do que muitos acreditam, possui seus dogmas e sua liturgia própria. A influência católica sofrida pelo Catimbó, deve-se ao fato dessa religião ter sido perseguida e proibida por lei, tendo muitos adeptos da Jurema sagrada (Catimbó) terem sido mortos por terem sua crença. Graças a isso, houve uma junção com rezas católicas, para poderem disfarçar suas práticas de juremeiros.
A Jurema (Mimosa hostilis), nativa do agreste e sertão nordestinos, é um arbusto Fabáceo, do qual se fabrica uma bebida psicoativa de mesmo nome. Tal bebida, também conhecida como Vinho da Jurema, é feita de maneira reservada pelos juremeiros. A ingestão da Jurema, em conjunto com os toques, as cantigas rituais do catimbó, provoca um estado de transe profundo, interpretado pelos Catimbozeiros, como a incorporação dos Mestres da Jurema. Estas entidades espirituais, que habitariam o Mundo Encantado ou Juremá, teriam sido adeptos do catimbó que, ao morrerem, se “encantaram”, ou seja, foram transportados a este estamento espiritual, de onde poderiam atender os vivos pela realização de curas e aconselhamento, desde que para tal fossem requeridos através da incorporação.
Jurema de Terreiro
Jurema de terreiro ou Catimbó de terreiro é a designação comum à linha de Catimbó-Jurema que tem seus rituais processados em um terreiro, ao som dos tambores e atabaques. Esta modalidade de culto apresenta uma massiva influência africana em sua composição, ao contrário das demais linhas do catimbó-jurema, que são, predominantemente, de origem indígena-católica.
Xangô do Nordeste
Xangô do Nordeste também conhecido como Xangô do Recife, Xangô de Pernambuco ou Nagô Egbá.
Em todo o Nordeste da Paraíba à Bahia, a influência dos yorubas prevalece a do Daomé. Esta é a zona mais conhecida quanto às religiões tradicionais africanas, a que deu lugar a maior número de pesquisas e de trabalhos sobre os nagôs. As duas palavras para designá-las são, a de Xangô na Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, e de Candomblé da Bahia para o sul, esta dualidade de nomes, que não são nomes dados pelos negros, mas sim pelos brancos em virtude da popularidade e importância de Xangô nessa região, e Candomblé por designar toda dança dos negros, tanto profanas como religiosas.
Candomblé de Caboclo
Candomblé de Caboclo é todo candomblé que além do culto aos orixás, voduns ou nkisis, cultua também espíritos ameríndios chamados de entidades, catiços ou caboclos boiadeiros e gentileiros. Inicialmente na Bahia os Candomblés não tradicionais, eram na maioria caboclos, que é um misto de Keto, Jeje e Angola.
O caboclo exerce um papel fundamental no relacionamento da comunidade afro brasileira, pois fala o idioma português, papel que os orixás só fazem no idioma africano, chamado Yorubá, assim conquistando a popularidade dos crentes, que não entendem ou falam a língua dos orixás. São encarregados de trazer mensagens dos seus ancestrais, principalmente de entes queridos desencarnados há pouco tempo, aconselham os desesperados, indicando sempre um novo caminho, indicam banhos de folha sagrada e pequenas oferendas para resoluções dos seus problemas.
Cabula
Cabula é o nome pelo qual foi chamada, na Bahia, uma seita afro-brasileira surgida no final do século XIX, de caráter secreto, sincretizadora de leque malês, bantos e espíritas.
Cabula é também o nome de um bairro de Salvador que teve origem no quilombo do Cabula, onde negros de origem bakongos e angola praticavam uma dança de caráter ritual, ao ritmo de um toque de percussão religioso, denominada kabula, que deu origem ao nome do bairro. Também o vizinho bairro da Engomadeira possivelmente também teria seu nome relacionado com os cultos afro-brasileiros, sendo derivado da palavra ngoma, um atabaque de uso ritual, tocado com as mãos, no candomblé das nações angola e congo e também em algumas danças folclóricas afro-brasileiras (coco, jongo, bambelô etc.).
Quimbanda
Quimbanda é um conceito religioso de origem afro-brasileira, presente na Umbanda, ainda controverso quanto a sua real definição na atualidade. Por vezes, é classificada como uma religião autônoma. É identificado por alguns como o lado esquerdo da Umbanda, ou seja, que tem todo conhecimento do mundo astral, inclusive da magia negra, e que, por ter esse conhecimento, podem ajudar a fazer o bem. Suas entidades vibram nas matas, cemitérios e encruzilhadas, também conhecidos como “Povo da Rua” e abrangem os mensageiros ou guardiões Exus e Pombagiras. Estes, são uma espécie de polícia do astral, atuam no resgate de almas empedernidas e aplicação da Lei Cármica.
A palavra “Quimbanda” (Kimbanda) vem da palavra africana em Bantu que significa “curador” ou “shaman”, também se refere a “Aquele que se comunica com o além”.
Encantaria
Encantaria, Terecô, Mata ou Encantaria de Barba Soeira, é uma forma de pajelança afro-ameríndia, praticada sobretudo no Piauí, Maranhão e Pará. Em seus rituais, são cultuadas diversas divindades de origens diversas, tais como africanas (Voduns e certos Orixás), indígenas (O Raio, o Sol), católicas (o Deus único, o Espírito Santo e a Virgem Maria) e brasileiras (os Encantados e os Caboclos).
Diferente da Umbanda, na qual as entidades são espíritos de índios, escravos, etc, que desencarnaram e hoje trabalham individualmente (geralmente usando nomes fictícios), na Encantaria, as entidades não são necessariamente de origem afro-brasileira e não morreram, e sim, se “encantaram”, ou seja, desapareceram misteriosamente, tornaram-se invisíveis ou se transformaram em um animal, planta, pedra, ou até mesmo em seres mitológicos e do folclore brasileiro como sereias, botos e curupiras. Na Encantaria, as entidades estão agrupados em famílias e possuem nome, sobrenome e geralmente sabem contar a sua história de quando viveram na terra antes de se encantarem.
Xambá
A Nação Xambá é uma religião afro-brasileira ativa em Olinda, Pernambuco. Alguns autores, como Olga Caciatore e Reginaldo Prandi, afirmam que este culto está praticamente extinto no país.
Babaçuê
Babaçuê é um culto religioso afro-ameríndio popular do Norte e Nordeste do Brasil em especial nos estados do Amazonas e do Pará. Também chamado de Batuque-de-Santa-Bárbara, Batuque-de-Mina, é considerado como uma das Religiões afro-brasileiras por ser um tipo de candomblé mestiço, também chamado de Jeje-Nagô, onde são cultuados tanto Orixás como Voduns.
Como Batuque de Santa Bárbara, cultua os Orixás nagôs Iansã e Xangô, a primeira protegendo as mulheres e o segundo, os homens. E na versão Batuque-de-Mina, cultua os Voduns.
Batuque
“Batuque é uma forma genérica de denominar as religiões afro-brasileiras de culto aos Orixás, encontrada principalmente no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, de onde sua diáspora se estendeu para outros estados e países vizinhos tais como Uruguai e Argentina.O batuque é fruto cremos que dos povos oriundos África de regiões onde hoje se situam Nigéria e o Benim. Aqui sendo adotado por povos que chegaram oriundos de outras regiões onde hoje se situam a Costa da Guiné.” (Custódio).
No Batuque, o culto é feito exclusivamente aos orixás, sendo o Bará (Exu) o primeiro a ser homenageado antes de qualquer outro pois este é o Orixá da comunicação, e encontra-se seu assentamento em todos os terreiros.
Um comentário em “Entendendo as religiões de matrizes africanas para não falar besteira”