Por ocasião da homenagem do Google ao geógrafo brasileiro Milton Santos, internautas no Twitter subiram a hashtag #MeuRacistaSecreto para os trending topics nacionais. As mensagens trazem denúncias de racismo sofrido diariamente confrontando a ideia de democracia racial brasileira.
Apesar do teor político em meio às eleições onde se polarizam discursos de ódio, muitas denúncias mostraram a naturalização do preconceito racial e como esse problema ainda está arraigado na cultura brasileira a ponto de relativizar a dor do próximo, bem como tratar um problema social tão preocupante como vitimismo.
Existe um mito: democracia racial. O Brasil é claramente preconceituoso. Quando se anda na periferia e vê maioria negra entende-se que o processo abolicionista foi excludente. Não, não é porque negros são maioria da população e por isso é maioria nas camadas mais pobres. Se assim fosse, nas classes mais abastadas também teria maioria negra e não é isso que acontece.
O problema do preconceito é tão sério que se tornou normal ouvir declarações racistas e se alguém se sente ferido é taxado de vitimista.
A hastag #MeuRacistaSecreto evidenciou isso e se você tem olhar analítico, vai ver que pode ser um racista em potencial e às vezes nem percebe. Você tem culpa disso? Quem pode julgar. Existe uma teoria que mostra que há um poder simbólico exercido sobre nós que não vemos, não percebemos, mas sofremos. Você foi educado a ser racista e pode se educar a não ser. Assim como um negro foi educado a não ter autoestima, a se sentir inferior e pode se educar a não ser e lutar por equidade. E sim, políticas públicas afirmativas são necessárias para essa busca por igualdade, pois como nosso própria princípio constitucional da igualdade diz, “é preciso tratar os iguais como iguais e desiguais como desiguais”.
É fato que não temos igualdade de oportunidades, logo, não há como exigir unicamente a meritocracia. É preciso nivelar, resgatar. O Estado tem sim dívida histórica com os negros por todo o processo escravagista. Por isso existem as políticas públicas afirmativas.
Mas vamos voltar a hastag que bombou no Twitter. Você já ouviu ou falou alguns desses argumentos?
Após a abolição da escravatura houve uma tentativa de embranquecimento da sociedade brasileira. Trouxeram imigrantes europeus para trabalhar no lugar dos escravos e buscavam não se relacionar com negros para clarear a sociedade. No entanto, mulheres negras eram constantemente estupradas, logo, houve maior multiplicação da população negra que ficou à margem da sociedade. Foram para os morros porque eram proibidos de transitar na cidade. Hoje, 130 anos após a abolição da escravatura, muitos negros ainda ouvem seus familiares afirmando que precisam casar com brancos para clarear a família. Ou seja, ainda lutam por um processo de embranquecimento. O racismo não acabou.
Negar a autodeclaração negra também é um processo de embranquecimento social. O racismo não acabou.
Muitos vendedores negam-se a atender negros por achar que não terão dinheiro para pagar. Julgam pobres por serem negros. É fato que a maioria negra está nas camadas mais pobres. Mas julgar poder de compra pela cor da pele é o melhor caminho? O racismo não acabou.
Violência não é piada. Quando você ofende alguém com uma piada está desrespeitando. Piada racista apenas propaga ainda mais racismo. Você acha que é mimimi? Se coloca no lugar do outro. Violência psicológica é perversa. Destroi autoestima, destroi cultura, destroi a sociedade e constroi pessoas que diminuem a história de sofrimento de um povo. Essa construção só perpetua o racismo. O discurso de que racismo é mimimi ainda é muito grande. Logo, o racismo não acabou.
É inadmissível que o racismo seja propagado por educadores. Quando se ensina a ser racista na sala de aula, evidencia-se que o racismo não acabou!