Registros de casos quase que dobrou neste ano na Bahia, diz Sepromi
Quem passa pela Avenida Vasco da Gama, em Salvador, talvez não saiba, mas ali fica um terreiros mais antigos e tradicionais do mundo: a Casa de Oxumarê. Nas últimas semanas, no entanto, as paredes brancas do muro que cerca o templo candomblecista foram pichadas com as palavras “Jesus é o caminho”.
O terreiro diz estar resolvendo a situação com seu setor jurídico. Câmeras internas serão consultadas para que uma denúncia formal, de intolerância religiosa, possa ser realizada. “Nós temos câmeras no terreiro que servem para segurança. Elas serão consultadas para que possamos ingressar com denúncias”, contou o ogan da Casa de Oxumarê e rapper, Lázaro Erê.
O babalorixá do terreiro, Babá Pecê, ressaltou que os ataques e a tentativa de interromper ou impedir que o terreiro funcione são constantes.
Neste ano, a página da Casa de Oxumarê no Facebook sofreu ataques em massa, chegando a ser retirada do ar pela rede social. “Eles estão denunciando em massa a nossa página no Facebook. A página chegou a ser desativada, mas nós entramos em contato com o Facebook e conseguimos colocá-la no ar novamente”, comentou.
Em nota, o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC) afirmou que uma equipe técnica realizará uma visita ao terreiro nesta quarta-feira (31). Um levantamento dos possíveis danos sofridos na materialidade será realizado.
Intolerância dobra
O número de registros de intolerância religiosa na Bahia quase que dobrou de 2017 para este ano. Até esta terça-feira (30), foram notificados 74 casos de racismo e 36 de intolerância, totalizando 110 casos pela Secretaria estadual de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi) através do Centro de Referência Nelson Mandela. Em 2017, foram 66 no total, sendo 45 de racismo e 21 de intolerância. O caso da Casa de Oxumarê não entrou nessa na contagem.
A secretária da Sepromi, Fabya dos Reis, acredita que o aumento do registro de intolerância religiosa retrata o atual cenário do país, mas que a divulgação do Centro de Referência Nelson Mandela tenha influenciado no número de notificações.
“Nunca é, no entanto, uma variável apenas. Nós temos um trabalho através das oficinas, dos seminários e campanhas que a secretaria vem desenvolvendo, sobretudo após a unidade móvel do centro de referência começar a se deslocar para os territórios baianos. Temos uma divulgação maior do serviço e levamos esse conhecimento para a população”, acrescentou.
Fabya contou que a Sepromi atua em uma rede de combate ao racismo e intolerância que integra outras entidades, como o Ministério Público (MP-BA), a Defensoria Pública do Estado (DPE), o Tribunal de Justiça (TJ-BA), universidades e órgãos da sociedade civil.
Ataques constantes
O ogan da casa afirmou que não é a primeira vez que o terreiro é pichado e que os integrantes estão se articulando para que a parede seja pintada. “Essa perseguição, essa tentativa de silenciamento, esses ataques de escárnio e violência, nós de religião de matriz africana já sofremos há muito tempo!”, escreveu o ogan em seu Facebook.
Ao longo dos anos, outros ataques já haviam sido registrados. “Já houve uma vez em que estávamos fazendo nossas obrigações e eles colocaram um carro de som com som para dentro do terreiro. Nós fomos pedir para que fosse retirado e eles não tiraram. Sempre acontecem coisas assim. Até sal eles já jogaram na porta do terreiro”, relatou.
Fonte: Correio 24h