Na quinta-feira (13) a Polícia Civil inaugurou na Rua do Lavradio, n º155, região central da cidade do Rio de Janeiro, a Delegacia Especializada em Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi). Segundo o delegado titular da unidade, Gilbert Stivanello, os policias estão passando por uma série de capacitações para atender as vítimas de crimes como racismo, xenofobia, intolerância religiosa e homofobia.
No mesmo endereço também funciona a Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV) e a de Proteção à Criança e ao Adolescente. Estiveram presentes na inauguração representantes do poder legislativo, judiciário, autoridades da área de Segurança Pública e também lideranças de diversas religiões.
A campanha Liberte Nosso Sagrado
“É importante dizer que esses passos vêm de longe e que são mais de 10 anos acompanhando esse movimento que hoje se materializou”, palavras da Mãe Meninazinha de Oxum, grande líder do movimento Liberte Nosso Sagrado. Durante o evento que marcou a inauguração da Delegacia Especializada, representantes da campanha cobraram a devolução de objetos sagrados apreendidos pela polícia quando as religiões de matrizes africanas eram criminalizadas por lei no Brasil.
Jorge Santana, membro da campanha Liberte Nosso Sagrado e um dos diretores do documentário “Nosso Sagrado”, ressaltou a luta de mais de 70 anos para o resgate dos objetos.
“A gente tem como propósito retirar esses objetos de lá porque desde 1945 essas religiões deixaram de ser criminalizadas e os objetos não foram devolvidos aos seus verdadeiros donos que são as lideranças religiosas da umbanda e do candomblé”, explicou.
O filme “Nosso Sagrado” foi mais um desdobramento da campanha e se tornou uma importante plataforma de denúncia do descaso das autoridades para com as religiões de matriz africana no Brasil. O documentário resgatou, a partir de depoimentos de ialorixás e pesquisadores, o histórico de perseguições por parte do Estado. O diretor do filme, Fernando Sousa, destacou o aspecto do racismo religioso presente na postura das instituições.
“A gente discute a importância que esses objetos sagrados têm para a umbanda e o candomblé, e a gravidade deles estarem ainda hoje no Museu da Polícia Civil, do fato de já terem sido classificados como coleção de magia negra e expostos de forma inadequada” , disse.
O documentário, produzido pela Quiprocó Filmes, tem percorrido festivais como o Los Angeles Brazilian Film Festival, onde será apresentado na próxima semana, e feito debates em terreiros e escolas públicas sobre racismo religioso.
Marco Teobaldo, que também participa da campanha pela transferência dos objetos para o Museu da República, apontou a necessidade urgente de cuidado do acervo para evitar a sua completa deterioração.
“No momento, o acervo está sendo vistoriado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e pelo Museu da Polícia, a gente acompanhou algumas das vistorias, o acervo não está em bom estado e realmente precisa ser cuidado da maneira que merece porque é a primeira coleção tombada pelo IPHAN em 1938”, diz o curador do Instituto Pretos Novos.
Outras delegacias especializadas por crimes de ódio pelo Brasil
SP
Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi):
funciona no Palácio da Polícia Civil, na Rua Brigadeiro Tobias, 527, na Luz, região central de São Paulo. Além do atendimento presencial, vítimas e testemunhas podem entrar em contato com a unidade por meio dos telefones (11) 3311-3555 e 3311-3556 ou pelo e-mail decradi@policiacivil.sp.gov.br.
DF
Delegacia Especial de repressão aos Crimes por discriminação racial, religiosa ou por orientação sexual ou contra pessoa idosa ou com deficiência(Decrin):
SPO, Lote 23, Conjunto D – Ed do DPE – Complexo da PCDF. Telefone: (61) 3207-4246. A delegacia atende apenas em dias úteis. de 13h.
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Com informações do Brasil de Fato