Em 2020 a Acadêmicos do Grande Rio vai contar só a grandiosa história do babalorixá baiano Joaõzinho da Gomeia. Mas não será apenas uma homenagem, será também um grito de protesto contra o racismo religioso. Com o enredo “Tata Londirá: o canto do caboclo no Quilombo de Caxias”, a agremiação de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, vai trazer à tona, no último setor, a intolerância religiosa, que tanto tem atingido templos religiosos de matriz africana na região.
No Terreiro da Gomeia, inaugurado por Joãozinho nos anos 40, na Vila Leopoldina, em Caxias — e que hoje é um terreno abandonado — ele recebeu figuras ilustres da arte e da política, além de ter iniciado milhares de filhos de santo. Gay, negro e candomblecista, nunca foi impedido de exercer sua religião.
Cenário bem diferente do atual em algumas regiões do município. Só este ano, segundo denúncias que chegaram à Comissão de Combate à Intolerância Religiosa do Rio de Janeiro (CCIR), foram 70 casos de intolerância religiosa em terreiros no estado do Rio. Duque de Caxias é a cidade que lidera: foram 15 casos.
— Segundo o carnavalesco Gabriel Haddad, ao final da sinopse do enredo, eles dizem que os terreiros são como mocambos (pequenas aldeias) nos quilombos. “A intolerância religiosa vai ser tratada no final do desfile, representando Caxias como um quilombo e Joãozinho como um dos grandes incentivadores desse quilombo” — diz o carnavalesco.
Joãozinho abriu seu terreiro na Rua da Gomeia, em Salvador. Em 1948, veio para o Rio de Janeiro e inaugurou o Terreiro da Gomeia, em Caxias. O local era frequentado por personalidades. Apaixonado por carnaval, música e dança, também se apresentava em shows com coreografias que ele mesmo desenvolvia