A capoeira é uma expressão cultural brasileira que engloba arte marcial, dança, cultura e música, mas antes de ser uma arte, a capoeira simboliza a luta e resistência dos povos africanos e afrobrasileiros que foram escravizados no Brasil.
Como eram proibidos de praticar qualquer tipo de arte marcial ou de possuírem armas, os negros escravizados utilizaram o seu próprio corpo como arma e desenvolveram a criação de golpes e de movimentos de defesa. Para não levantarem suspeitas, foi adaptado aos movimentos de luta cantos da África para que, dessa maneira, ela poderia ser percebida como uma dança.
Capoeira no pós-escravidão
O código penal de 1890, criado durante o governo do Marechal Deodoro da Fonseca, fazia proibição à prática da capoeira em todo o território nacional. Esse decreto potencializava o ódio contra tudo o que era do negro e promovia o encarceramento negro, já que negros praticando capoeira eram presos por crime de vadiagem.
(Decreto número 847, de 11 de outubro de 1890)
Capítulo XIII — Dos vadios e capoeiras
Art. 402. Fazer nas ruas e praças públicas exercício de agilidade e
destreza corporal conhecida pela denominação Capoeiragem: andar
em carreiras, com armas ou instrumentos capazes de produzir lesão
corporal, provocando tumulto ou desordens, ameaçando pessoa
certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal;
Pena — de prisão celular por dois a seis meses.
A penalidade é a do art. 96.
Parágrafo único. É considerada circunstância agravante pertencer o
capoeira a alguma banda ou malta. Aos chefes ou cabeças, se
imporá a pena em dôbro.
Com o advento do Estado Novo, onde Getúlio Vargas buscava uma identidade nacional, ao mesmo tempo que inseria a educação física como obrigatório nos currículos escolares, mestre Bimba, o criador da capoeira regional, buscou forma de desmarginalizar a capoeira adaptando ao que se queria o momento político: atividade física e disciplina. Foi nesse contexto que Bimba criou a capoeira regional com métodos de ensino, além da exigência de notas boas na escola ou ter um emprego de forma a mostrar que seus praticantes não eram marginais e, por meio da capoeira, obtinham disciplina e força física como queria o governo à época.
Nesse contexto, em 1930, o capoeirista mestre Bimba apresentou a capoeira para o então presidente da Republica Federativa do Brasil, Getúlio Vargas, que observou que esta “nova” capoeira cumpria o que ele necessitava dando disciplina (isso porque os militares o apoiavam e queriam propagar isso) e nacionalizava a cultura da capoeira que, aí passou a ser praticada pela burguesia que precisava tirar a capoeira da maarginalidade e do código penal. Foi uma oportunidade abraçada por mestre Bimba ao mesmo tempo que uma demanda das classes mais abastadas que passaram a praticar a capoeira.
Por isso, há quem diga que Bimba embranqueceu a capoeira.
Digamos que temos prós e contras nesse história. O argumento em favor é que hoje podemos praticar tanto a capoeira regional quanto angola livremente já que não está mais no código penal e, assim, buscar propagar a cultura afrobrasileira. O argumento contra é que a capoeira regional foi elitizada tendo pessoas brancas de elite participando e, assim, retirando diversos aspectos culturais africanos para se adaptar e “adequar” ao que a elite queria. Assim a cultura foi embranquecida na tentativa de apagamento africano da capoeira.
Referência bibliográfica
ADORNO, Theodor. W. Educação e emancipação. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2000.
D‟ARAUJO, Maria Celina. O estado Novo. 1ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
2000.
ELIAS, Norbert. O processo civilizador: uma história dos costumes. 2 v. Rio de
Janeiro: Editora Zahar, 1994.
VIEIRA, Luiz Renato. O Jogo da Capoeira: Corpo e Cultura Popular no Brasil. 2ª
ed. Rio de Janeiro: Sprint, 1998