Mais de 100 anos após a abolição da escravatura, a discriminação racial ainda é forte no Brasil. A população negra é maioria, mas está nas camadas mais pobres e sua autoestima é afetada. Você pode até achar que não é preconceituoso, mas um fenômeno do cérebro chamado viés inconsciente faz que as pessoas disseminem o racismo sem perceber.
É muito comum ver discursos falando que não existe racismo e que o negro se vitimiza. Mas você já parou pra pensar que muitas vezes o preconceito está na nossa cara e não vemos?
Vamos começar pelos dados.
Uma pesquisa do PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) mostra que os negros e pardos representam 54% da população brasileira, mas sua participação no grupo dos 10% mais pobres é muito maior: 75%.
No grupo do 1% mais ricos da população, a porcentagem de negros e pardos é de apenas 17,8%.
Porque isso ocorre? Pelo processo histórico de marginalização do negro. Deixou de ser escravo mas foi largado à própria sorte sem perspectiva. Como eram escravos, os senhores brancos se recusavam a pagar os negros pelos serviços que prestavam de graça. Por isso deu-se a imigração no Brasil. Os negros também não podiam estudar nas mesmas escolas que os brancos. E não tinha escola para negro. Com isso, a população negra foi ficando cada vez mais nas camadas pobres o que ocasionou essa discrepância social por conta da raça.
Tá, mas isso é coisa antiga. Hoje não somos mais racistas.
Não é bem assim. Os casos de racismo permanecem. Além da baixa autoestima do negro ser alimentada com o padrão de beleza branco. A estética negra foi imposta como inferior e feia. O preconceito velado ainda é forte. Muitas vezes você é racista e nem nota. Você destrói a autoestima de uma menina negra e nem percebe.
Mas como??
Existe uma coisa na psicologia chamada viés inconsciente. É um conjunto de estereótipos sociais, sutis e acidentais que todas as pessoas mantêm sobre diferentes grupos de pessoas. É o olhar automático para responder a situações e contextos para os quais você é treinado culturalmente, como uma programação do cérebro.
Por exemplo.
Quando falamos “cabelo ruim”, você rapidamente pensa num cabelo crespo. Mas cabelo crespo não é necessariamente ruim. Ser crespo é uma característica do cabelo do negro. O cabelo ruim é qualquer cabelo mal cuidado seja ele liso, crespo, ondulado, cacheado. Quando você associa a expressão “cabelo ruim” ao crespo você está sendo racista. E isso é um fator cultural alimentado há anos. Um fator cultura racista e que destrói a autoestima do negro.
Um negro vestindo uma blusa com capuz, calça larga e cabelo black power facilmente é associado a um marginal. Mas isso é racismo. É uma peça pregada pelo seu cérebro por causa desse “viés inconsciente”. Por isso muitos dizem não ser racistas, mas reproduzem expressões como “cabelo ruim” e fica com medo quando um negro de black power e roupa larga chega perto. Ou ainda acha que o cabelo tem que ser “domado” para conseguir emprego porque cabelo crespo não é socialmente aceito. Ele não é socialmente aceito por causa do racismo.
Vamos refletir… você reproduz racismo no dia a dia?